quinta-feira, agosto 2

Profecias


Tem dias que a gente se sente

Um pouco talvez menos gente

Um dia daqueles sem graça

De chuva cair na vidraça

Um dia qualquer sem pensar

Sentindo o futuro no ar

O ar carregado, sutil

Um dia de maio ou abril

Sem qualquer amigo do lado

Sozinho em silêncio calado

Com uma pergunta na alma

Por que nesta tarde tão calma?

O tempo parece parado?

Está em qualquer profecia

Dos sábios que viram o futuro

Dos loucos que escrevem no muro

Das teias, do sonho remoto

Estouro, explosão, maremoto

A chama da guerra acesa

A fome sentada na mesa

O copo com álcool no bar

O anjo surgindo no mar

Os selos de fogo, o eclipse

Os símbolos do Apocalipse

Os séculos de Nostradamus

A fuga geral dos ciganos

Está em qualquer profecia

Que o mundo se acaba um dia
Um gosto azedo na boca

A moça que sonha, a louca

O homem que quer mas esquece

O mundo do dá ou do desce

Está em qualquer profecia

Que o mundo se acaba um dia
Sem fogo, sem sangue, sem ais

O mundo dos nossos ancestrais

Acaba sem guerra, os mortais

Sem glórias de mártir ferido

Sem o estrondo mas com gemido

Está em qualquer profecia

Que o mundo se acaba um dia

Um dia

(A Profecia - Raul Seixas)