terça-feira, março 18

Chatos, blogueiros e jornalistas

Os dois textos abaixo refletem em muito com o que eu penso na atualidade. Me assumo como mais uma desta legião. Em grande parte de jornalistas e estudantes de jornalismo. Para quem se interessar pela discussão do assunto (se blogueiro pode virar profissão, se há um embate entre os dois grupos) indico o Libellu's da Ana Brambilla que foi minha colega de faculdade (na verdade ela foi a primeira pessoa com quem eu falei na Famecos, num dia que todos tínhamos cara de susto) e estuda muito sobre o tema blogs e jornalismo colaborativo.
Sobre o segundo texto, concordo que a experiência é importantíssima para a formação de um jornalista, acredito até que em alguns casos ela pode até falar mais alto que o diploma, mas fico muito desapontada que ainda muitos profissionais de outras áreas achem que para ser um jornalista basta sentar e escrever. Falando nisso, lembrei do que afirmava um professor meu da Famecos: "O jornalista é o único profissional que sai da faculdade autorizado a emitir opinião sobre qualquer assunto".

O nome deles é Legião
Carlos Heitor Cony (*)Fonte:Folha de S. Paulo
No meu tempo, dizia Machado de Assis, já havia velhos, mas poucos. Parodiando o mestre, direi que, no meu tempo, já existiam chatos, mas relativamente poucos. E não eram tão espalhafatosos e onipresentes.
Quando Cristo expulsou Satanás de um endemoniado, perguntou-lhe o nome. Satanás respondeu: "Meu nome é Legião". Os chatos de agora são também uma legião, a internet ampliou-os em número, freqüência e virulência.
Todos os meus amigos -e até mesmo alguns que não chegam a isso- reclamam das mensagens, das sugestões e, sobretudo, das denúncias do interesse de cada um. Do prefeito que não asfaltou a rua, do emprego que alguém não obteve, do concurso que o reprovou.
O e-mail, que deu oportunidade à comunicação de forma surpreendente, se, de um lado, está servindo na busca e na troca de informações para aproximar pessoas, de outro, está produzindo chatos em massa, em escala industrial.
Desocupados, embriões de gênios que desejariam ser comentaristas de política, de esportes, de economia e de cultura, ditando regras disso ou daquilo, encontraram afinal a tribuna, o miniespaço que buscavam e não conseguiam.
Entram na internet com tempo e garra suficientes para tentar criar um mundo à sua imagem e semelhança, mundo que felizmente não existe, a não ser na cabeça desses novos Petrônios informatizados.
E, ao contrário de Deus, que quando criou todas as coisas, o céu e a Terra, o Sol e as estrelas, descansou no sétimo dia, o chato eletrônico não descansa, trabalha em tempo integral, todos os dias, sábados, domingos e feriados, não tira férias, não adoece. E como ninguém toma as providências que ele reclama, o chato adota um moralismo pedestre, primário, tentando mudar o mundo que insiste em rejeitá-lo.
(*) Articulista da Folha de S. Paulo - artigo publicado na edição de domingo, dia 16/03/08.


Em defesa da elite
David Coimbra - Zero Hora - 14 de março
Qualquer um pode ser jornalista. Um médico, um advogado, um engenheiro, todos esses, se fizessem um curso básico de um aninho, teriam condições de trabalhar como jornalistas.
A premissa contrária não é verdadeira. Um jornalista não poderia ser médico sem fazer a faculdade inteira de Medicina e mais a residência. Nem arquiteto ou engenheiro ou advogado.
O fato é que o jornalismo é uma profissão muito simples. Muito fácil de ser exercida. E é aí, justamente na facilidade, que residem as dificuldades.
Dias atrás ocorreram dois casos ilustrativos. O assessor de imprensa de um deputado distribuiu rilises com declarações do dito-cujo sobre depoimentos na CPI do Detran ANTES de os depoimentos serem tomados. Ouvi uma penosa entrevista do assessor. Assumiu a culpa pelo desastre, isentou o deputado, pediu perdão. É um jovem, tem dois anos e meio de profissão. Pela forma corajosa como se comportou, acredito que será um bom jornalista e que irá crescer com o incidente. Mas, se tivesse cinco ou seis anos de REPORTAGEM, duvido que cometesse o erro. O exercício da reportagem faz toda a diferença nessa profissão.
O outro caso acontecido é a prova disso. No fim da tarde do mesmo dia, o Túlio Milman, em seu programa na Gaúcha, recebeu a informação de que as aulas no Parobé seriam suspensas devido à morte de um professor. Perguntou à repórter que trazia a notícia qual era o nome do professor. Ela vacilou, começou a pensar, ia falar, mas o Túlio a interrompeu:
- Não confia na memória: confere o nome certinho e depois traz aqui.
O Túlio, jornalista experiente, sabe que o erro está sempre de tocaia e ataca quando a gente está relaxado, quando a gente acha que aquilo que está fazendo é fácil e simples. Por isso, como ouvinte, telespectador e leitor, como consumidor de informação, desprezo o excesso de interatividade. Quando ligo o rádio e ouço "esse programa é feito pelo ouvinte", mudo de estação. Não quero ouvir algo que é feito pelo ouvinte, nem ler o que o leitor escreve. Quero o trabalho do especialista, do jornalista de comprovadas experiência e competência. Quero consumir a elite, não a mediocridade. Até democracia demais cansa.

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  • Gabizitamada, que coisa boa a gente se encontrar aqui pela blogosfera. Adorei teu post. São dois textos fantásticos, sem dúvida, embora eu discorde da visão do Cony e do David.

    Ambos me pareceram radicalíssimos. Nem todo o blogueiro é chato, assim como nem todo mundo pode ser jornalista, assim como jornalismo NÃO É uma profissão simples...

    E o fato do David Coimbra não ouvir programas feitos pelo ouvinte acho que é mais do que querer trabalho de especialista. É uma arrogância tremenda que impede um grande grupo de jornalistas cabeça-de-papel a aceitarem outras visões que não a dos coleguinhas de redação (e torre de marfim).

    Ainda prefiro ouvir um psiquiatra falando de distúrbios mentais do que o Paulo Sant'Anna... :-P

    Beijo grande, moça!

    Por Blogger Ana Brambillaas18/3/08 19:18  

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